JOGAR FORA COMIDA E TEMPO

Imagem de Carlos Pojo Rego

Guapimirim, terça-feira, 21 de fevereiro de 2023. Ao começar o quarto dia sem a luz restaurada integralmente, hoje vou começar a jogar fora, a comida que está na geladeira. Com tanta gente a passar fome, ter de fazer isso, por culpa da incompetência e ganância de uma empresa privada, é muito triste. E pela conhecida morosidade ou para não falar ainda pior da justiça brasileira, mais uma vez, a empresa sairá impune.

Sinto que não estou apenas a jogar fora comida, estou também a jogar fora o meu tempo de vida. Tenho de pensar nisso, e fazer algo novo para mudar essa situação, pois, fazer uma coisa da maneira que estás a fazer não vai te levar a uma solução diferente daquela que tens hoje. Busque soluções novas.

Será que nos Brasis, em que vivemos, irá ele um dia realmente proporcionar qualidade de vida para todos nós. Apesar de pequenas melhoras nos últimos anos, estamos a criar um fosso cada vez maior, entre nós e os cidadãos da primeira classe que habitam no hemisfério norte.

O que fazer? Não sei. Me sinto meio perdido, sempre com esperança no futuro e com pouca realidade no presente. Mas, neste momento ainda me sinto pior, me sinto cansado, não quero mais “brincar” desta maneira.

Hoje em dia, tenho certeza que lugares e pessoas roubam a nossa energia, então cai fora, se manda, vai embora, suma daí. Nada, nem a melhor oferta do mundo, aquela que vai te dar muita energia, vai valer a pena, se o lugar e as pessoas a sua volta, são altos consumidores de energia. Mais uma vez: cai fora, se manda, vai embora, suma daí. Vá para um lugar e conviva com pessoas em que mesmo havendo menos energia, ela será, a parte que te cabe, toda tua.

Bons dias e as noites sejam iluminadas para todos.

ENERGIA CAÓTICA

Imagem de Carlos Pojo Rego

Guapimirim, segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023. Dias incríveis, em um local onde simplesmente nada funciona bem. Logo que mudei-me para Pirenópolis, Goiás, reclamava muito da infraestrutura do município, principalmente da luz. Nossa, em comparação onde estou agora, Guapimirim, era a Suíça, aliás, como bem dizia o sábio presidente da empresa geradora de energia elétrica para Brasília, “Pirenópolis é a Suíça de Goiás”, que na época tínhamos um projeto juntos.  

Nunca vi nada igual, o caos da energia, a três dias sem energia de forma constante, no máximo uma fase, tive um dia e meio sem luz total e agora pisca o tempo todo, geladeira descongelada, internet intermitente. Deve ser uma vingança energética sobre o meu carma, eu devo ter sido, na minha última encarnação, um ditador sanguinário ou coisa pior. 

Mas por aqui o caos, infelizmente, estende-se às pessoas, que prometem e oferecem, mas, também ficam piscando ou simplesmente não o fazem. Triste mesmo. Quero ir embora, desse mundo paralelo, pois não quero acreditar que isso aqui seja real. A palavra caos sem dúvida foi criada por aqui.

Estou a escrever esse texto com a internet a funcionar por um longo fio elétrico ligado a uma tomada em um lugar onde a fase da eletricidade funciona. O que mais me chamou atenção, é o simpático, “faz tudo” da casa do meu amigo alemão, ele acha essa situação normal, como um destino evangélico, e que temos de aprender a conviver com ele. Meu Deus, me inclua fora dessa. 

Tem um ditado, acho que é francês, que mais ou menos diz: “A melhor maneira de viver com certas coisas é simplesmente não viver com  ela”. E me faz lembrar da frase “Ame-o ou deixe-o”, usada pelos defensores na época da ditadura militar brasileira. A frase era completada pelos opositores do regime: “o último que sair, apague as luzes do aeroporto”.

A vantagem é que por aqui não será necessário apagá-la.

Bons dias para todos.

UMA CASA NA MATA

“Meu” escritório na casa do Micha (Imagem de Carlos Pojo Rego)

Guapimirim, RJ, sábado, 28 de janeiro de 2023. Hoje acabei de ficar em casa a manhã toda e a tarde vamos, Micha e eu, ao centro de Guapimirim ver uma indicação de uma pessoa que conserta Apple,  que bom, comprar mais comida, agora para o almoço e jantar, e eu vou ao Banco do Brasil, sem agência, mas com atendimento com uma caixa eletrônica.

Aproveitei meu tempo para fazer dois vídeos da casa do Micha, que eu estou a morar, o primeiro, com a duração de uns seis minutos, para o YouTube e Facebook e segundo curto de 60 segundos para o Instagram. 

A casa tem um toque, sem dúvida, da sua ex-mulher e dele. Sua vida está espalhada por todos os cômodos, com muitos livros, discos de vinil, quadros, esculturas, fotos, cartazes, equipamentos fotográficos de várias idades, objetos de todas as partes do mundo por onde andou nestas últimas dezenas de anos. Pode-se ver sua personalidade estampada em todas as partes da casa.

Está construída no alto de um morro dentro de um condomínio fechado, mas não tem nenhuma vista para qualquer paisagem, pois a densa mata atlântica cobre qualquer possibilidade de vê-la. 

Tanto verde empilhado em enormes árvores dá uma sensação da nossa pequenez como seres humanos perante o resto da natureza exuberante, quase esmagadora. Eu sinto a necessidade como parte da natureza, que somos, de se integrar novamente a ela de uma forma definitiva e parar de tentar destruí-la, pois, finalmente estaremos a nos destruir para sempre.

Gastei nada hoje. Acumulado no mês é de R $2.567,12

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A CONSERTAR

Meu novo quarto na casa. (Imagem de Carlos Pojo Rego)

Guapimirim, RJ, sexta-feira, 27 de janeiro de 2023. Um dia sem sentido, aqueles que apenas passam. Trabalhei um pouco depois fui ao centro de Guapimirim para consertar meu celular (telemóvel) e tentar consertar o computador da Apple, um verdadeiro alienígena no interior do Brasil. Ninguém nunca viu um e nem quer ver. Morrem de medo somente ao falar o nome.

Interessante como os supermercados são todos iguais, muito chato, mas, tive de fazer compras para o almoço, uma pizza e alguns produtos para os próximos cafés da manhã (pequenos almoços). 

Bem dentro da proposta das indústrias da obsolescência programada dos equipamentos com seus dois tipos, a técnica (onde o fabricante cria o ‘defeito’ planejado depois de algum tempo), foi meu caso e a psicológica (a necessidade de comprar o último modelo, mesmo o teu ter menos de um ano de uso).  Deixei meu celular (telemóvel) numa loja que me prometeu entregar em duas horas, mas como não estou na Suíça, a loja atrasou mais de duas horas e meia para entregar o dito cujo. Normalíssimo para padrões nacionais, uma pena a falta de pontualidade e responsabilidade com o cliente que convivemos nas terras brasileiras.

Fiz um pequeno lanche para esperar o almoço e voltei para casa quase quatro horas da tarde, a morrer de fome. Fogo no forno e fomos comer, Micha e eu a honesta pizza que tem um custo benefício bem aceitável. Depois vou estrear o meu novo quarto, na casa principal.

Gastei R $100,00 com o conserto de celular, mais R $77,61 no mercado e R $23,69 no lanche, total do dia de R $201,30. Acumulado no mês é de R $2.567,12

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BRASÍLIA

Imagem Pixabay

Brasília, DF, terça-feira, 10 de janeiro de 2023. Cheguei de ônibus em Brasília, quase às 9 horas da manhã com duas horas de atraso, meu filho foi me levar um documento que vou precisar na Embaixada de Portugal, amanhã para fazer o meu cartão de cidadão português, o nome em Portugal para a carteira de identidade. 

Ao chegar estava com muita fome e fui a uma lanchonete na rodoviária mesmo, tipo fast food, o Bob’s e gastei R $34,00 para comer um cheese burger, fritas e uma coca-cola. Depois reservei o hotel, pela internet, com um bom preço para Brasília, a diária de R $84,24, com as taxas incluídas, que fica bem próximo ao metrô na praça do relógio em Taguatinga. No agendamento posso pagar em euro, moeda corrente de portugal, assim passei numa casa de câmbio e comprei 20 euros, a totalizar com taxas e impostos o valor R $120,00. Era preciso fazer cópias e impressões de documentos para entregar na embaixada portuguesa, custo R $7,00. Depois ainda no shopping, tomei um café com um pão de queijo no Mac Café e paguei R $8,90.

Para economizar, com o frigobar tem o preço dos produtos bem mais altos que nos mercados, fui nas Lojas Americanas e comprei torradas, chocolates e suco de uvas, o suco é para penitenciar-me das coca-colas que andei a tomar nos últimos dias, paguei R $34,44.

Entrei no apartamento do hotel e comecei a trabalhar no site e nas redes sociais, a buscar um modelo de publicações, pois o meu ainda não está bem definido e estou a me sentir perdido. Quais e quanto os dias eu devo postar e qual o conteúdo que eu devo postar. Sinto falta de um foco em uma linha editorial. Por isso me dediquei hoje para tentar resolver esse problema e me lembrei do que Fernando Pessoa fala sobre um problema; “A essência de haver um problema é não haver uma solução”.

Gastos do dia R $377,73, a totalizar até hoje, dia 10, R $1.213,21.

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PASSEIO A SERRA PAULISTA

Imagem divulgação do Ipê Amarelo C afé da Serra

PASSEIO A SERRA PAULISTA, 07/01/2023 (sábado) – Pela manhã combinamos visitar a Serra Paulista que fica perto de Vargem Grande do Sul no município de São João da Boa Vista. Fui de carro com o casal de amigos na casa em que estou hospedado. Primeiro um simpático e muito bem montado sítio, Ipê Amarelo Café da Serra, com um café da manhã excelente que pode ser degustado completo à vontade por R $49,00 ou por unidade consumida. Apenas beliscamos uns salgadinhos e doces e tomamos três cafés coados, a R $4,00 cada. Uma pena, pois tínhamos tomado um café da manhã em casa. Na propriedade há várias árvores frutíferas e um parreiral de uvas de mesa de ótima qualidade. E sem esquecer dos lindos e coloridos ipês amarelos.

Depois fomos almoçar no restaurante Bar da Serra, com uma ótima cerveja artesanal, feita pelo seu proprietário e culinária alemão e italiana, acompanhado com um som ao vivo. Mas vai ficar para a próxima vez, pois estava de recesso de Natal e ano novo até o próximo final de semana. 

Na volta paramos no Laticínio Montezuma, que fabrica queijo com leite de búfala, uma delícia. Acabamos por não comprar o carro chefe deles, o italianíssimo burrata, pois o preço no supermercado em Vargem Grande era mais barato. Visitamos os bebés búfalos, o laticínio e uma casa antiga, hoje em ruínas, que vai ser restaurada.

Em São João da Boa Vista paramos na cidade em um restaurante com uma comida mineira self service, honesta e gostosa o Panela Velha Grill, depois fomos para casa, mais uma vez choveu o dia todo, apenas com pequenas interrupções, mas sem sol. 

Comemos com meus amigos um jantar delicioso e fui dormir cedo. Só para constar a chuva continua. 

Não tive gasto nenhum, mais uma vez não me deixaram pagar. O gasto acumulado até hoje é de R $331,91.

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MONTES GERAIS

Imagem de Carlos Pojo Rego

Estive em um condomínio criado nos anos 50 em Belo Horizonte, com uma natureza incrível, sobre um monte, praticamente sem árvores de porte e com uma composição fantástica de pedras, esculpidas com a perfeição artística da natureza. 

Casas pequenas, tipo cabanas, e com um toque de gente sensível, que torna o local especial. Tem uma casa teatro, um castelo, um restaurante com vista para montanhas e vales também com vegetação rasteira, apenas os cílios verdes nas margens do pequeno rio que leva a uma cachoeira. No clube um toque de mestre dos mestres, o arquiteto Oscar Niemeyer, deslumbra com um projeto sobre pilotis que pousa no solo e harmoniza de forma perfeita com o ambiente.

Lá no topo da montanha, um vento e uma temperatura constantemente mais frio que nos arredores. Gostei muito da capela com paredes de vidro, pedra e reboco branco, bem ao estilo da arquitetura do meio do século vinte (1950). 

Sem dúvida, o local tem aquele astral especial, deixado pelos seus primeiros habitantes, que perdura até os dias de hoje e espero sinceramente que se eternize.

MEU QUARTO

Imagem de Carlos Pojo Rego

Estou em um quarto excelente, não estou a pagar nada, trata-se da morada do meu irmão dois anos mais moço. Os críticos de plantão, podem achar que isso é viver à custa dos outros, mas fui convidado para passarmos o Natal nós dois juntos e com parte da família dele. Cheguei dia 18 de dezembro, e vou partir no dia 2 de janeiro.

Do meu quarto tenho uma boa vista para uma espetacular mata atlântica, muito bem conservada, pelo fato que o condomínio ainda tem muitos lotes a construir e o dono que aqui mora, pretende não vendê-los tão cedo. A natureza agradece esse senhor.

A família com o passar dos anos tem para mim um peso cada vez maior, mesmo com os atritos “normais” de todas as famílias é sem dúvida um porto seguro onde passado e presente se misturam de uma forma temporariamente harmônica. Mas não deve-se exagerar duas semanas é o limite máximo, o ideal é uma semana, pois essa mistura do passado com o presente em um curto espaço de tempo se desestabiliza e torna-se um transtorno.

Uma boa maneira de garantir essa harmonia familiar era como sempre fazia meu tio avô Papo, de origem sueca, quando chegava algum hóspede da família ou amigo em sua casa, ele perguntava: Qual dia você vai embora? Quando respondia que ia ficar uma semana, acredito que ele pensava, está preservada a harmonia familiar.

SEM DOMICÍLIO FIXO

Imagem de Carlos Pojo Rego

Viver com apenas duas mochilas e não ter domicílio fixo, não é uma coisa que as pessoas entendam facilmente. Alguns pensam que eu estou de férias, ou vou voltar para a “minha” casa ou ainda, é apenas uma “pegadinha”.

Mas tudo isso aconteceu num processo longo e consciente de busca de liberdade, sem amarras e poder conhecer pessoas e lugares pelo Brasil e pelo Mundo.

Muitas pessoas acham que é impossível fazer tudo isso que eu faço com tão pouco dinheiro, que tenho uma reserva e a uso todos os meses. Na realidade essa proposta de vida é fruto de planejamento, desapego e organização. Tenho uma aposentadoria do INSS por idade e presto serviços, sempre de forma remota, para gerenciamentoi de projetos culturais. Essas duas rendas me dão a condição de bem viver.

Viajo de ônibus, uso muito a empresa Buser (o Uber dos ônibus), fico em quartos em residência de moradores da cidade e alugado por mês, também na casa de amigos (quando convidado) cozinho na residência, como pouco fora de casa, não corto cabelo em barbearias (tenho a minha máquina de cortar cabelo, tenho pouca roupas; 4 pares de calçados (tênis, bota montanha, alpargatas e chinelo havaiana), 2 cassacos (linha e lã) e 1 casacão para o frio, 3 calças jeans, 5 cueca, 4 meias de algodão, 2 meias de lã, 6 camisetas, 2 camisas polos, 1 boné e uma capa de chuva. Tenho para trabalhar um computador portátil, um celular, um bastão de autorretrato, tenho um plano de Internet e assino a Amazon Prime, onde compro um livbro pór mês e Mubi com ótimos filmes cult. Só compro um equipamento ou vestuário quando estão muito velhos ou estragados e sempre que possível são consertados. Isso tudo fazem a diferença e tornam essa “aventura” realizável.

Experimente viver com menos e verás que é realmente possível. Viver sem amarras, de forma bem simples e feliz.

boas lembranças

Imagem de Carlos Pojo Rego

As pontes sobre o rio das Almas, duas pênsil, uma meia ponte, que já deu o primeiro nome para Pirenópolis, Minas de Nossa Senhora do Rosário de Meia Ponte, e uma de concreto, elas são fortes símbolos, da tentativa dos homens de sobrepondo a natureza, a cultura local. Hoje podemos ver e sentir, outros exemplos desta prática, que de forma acelerada, a cidade e seus habitantes estão a sofrer nos últimos anos.

As muitas Almas escravas que no período da extração do ouro de aluvião, sem dúvida, ficaram no rio e ainda lá pairam, dão a Pirenópolis um toque melancólico à sua existência.

Deixo essa cidade, que vivi por décadas, com boas e nem tão boas lembranças de uma carreira acadêmica na Universidade Estadual de Goiás, da política, como secretário municipal de turismo e cultura, do título de cidadão pirenopolino, da construção de uma casa sustentável no centro histórico, da “Luiza”, minha bicicleta elétrica dobrável, de poucos mas fiéis amigos, de quatro amores, três consumados, de um casamento, de um divórcio. E de uma filha maravilhosa, Flora Lis. 

Apesar das lembranças passadas e de deixar um amor presente para trás, sinto-me pronto para novos momentos nas terras do além mar.