O trabalhar do idoso

Imagem de Israel Trejo por Pixabay

Como é difícil conseguir um emprego para quem tem mais de 70 anos, eu tenho 74, e sinto isso na pele. Especialista como a professora Maria José Tonelli, do Núcleo de Estudos em Organizações e Gestão de Pessoas (NEOP) da FGV, explica com essa frase a realidade do mercado. “… não existe um preconceito declarado, mas, ao mesmo tempo, não há prática de seleção ou de cultura organizacional que faça o engajamento de profissionais mais velhos. Isso não mudou.”

Moral da minha história, eu nunca me preparei para a velhice com a seriedade que ela necessita. 

Infelizmente sobra o famigerado empreendedorismo, uma balela neoliberal que fala sem o menor escrúpulo que está acessível a todos os humanos. Mentira. Nessa mesma linha temos a meritocracia, talvez a maior mentira deste século. Não somos igualmente inteligentes e não temos as mesmas formações, tanto acadêmicas quanto emocionais e ainda os talentos artísticos. 

Por tanto é sempre muito mais difícil e por vezes quase impossível, para com seus próprios méritos, conseguir o tão célebre sucesso. Não deixe de ler o livro de Michael J. Sandel, filósofo, escritor, professor universitário, ensaísta, conferencista e palestrante estadunidense, a “Meritocracia, A tirania do mérito: Não deixe de ler o livro de Michael J. Sandel, filósofo, escritor, professor universitário, ensaísta, conferencista e palestrante estadunidense, a “Meritocracia, A tirania do mérito: O que aconteceu com o bem comum?” Para entender a falácia da meritocracia.

CARTÃO DO CIDADÃO

Imagem de Eduardo Pojo do Rego

Brasília, quinta-feira, 2 de março de 2023. Quando cheguei na rodoviária de Brasília, sem demora chegou meu filho, Eduardo, e fomos à embaixada de Portugal pegar o meu cartão do cidadão, com direito a foto na placa de embaixada.

Sem dúvida nenhuma é para mim um momento muito especial, foram quase 4 anos que coloquei dinheiro, tempo, documentos, telefonemas para Portugal. Sem dúvida o que mais complicou foi o atestado de que não tinha cometido crime na França e nos Estados Unidos, países que já morei. Esse último foi uma verdadeira batalha, pois o documento é emitido pelo FBI – Federal Bureau of Investigation em Washington, DC, EUA. Por incrível que possa parecer tive de fazer minhas impressões digitais da forma antiga, aquelas com tinta, rolo e muito tempo na pia com água e sapólio para tirar a tinta dos dedos. Foram duas tentativas: a primeira foi em uma delegacia de polícia em Anápolis, mas como a tinta estava velha, por que não se usa mais esse sistema no Brasil, agora é eletrônico e digital, apesar da boa vontade dos policiais não ficou boa e não foi aceita pelo FBI. Segunda tentativa que fiz na Polícia Federal e foi aceita. 

Com essas idas e vindas, perdi o prazo da documentação em Portugal. Aí mais do que nunca devo a Dra. Gislaine Guerreiro, conseguiu mais tempo de prazo, me ajudou e incentivou desde o começo do meu processo. Outra pessoa que me ajudou em outro momento crucial, foi quando precisei fazer a tradução juramentada do documento que chegou do FBI do inglês para o portugues e não tinha dinheiro. Flora Lis, minha mais jovem filha, vendeu a televisão por 700 reais, que eu tinha lhe dado e paguei os 688 reais dos custos. Obrigado meninas.

Bons e viajantes dias a todos.

NOVOS PROJECTOS

Imagem Carlos Pojo Rego

Guapimirim, segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023. Começa o dia a  levar Esmeralda a linda fusca 61 do meu amigo alemão para a oficina.

No caminho me sentia feliz e empolgado, como “um pinto no lixo”. Pois, volto a gerenciar projetos. Mas antes vou a Brasília, na quinta-feira, na embaixada de Portugal, depois de quase 4 anos de “espera” pegar o meu cartão do cidadão português. Depois ir a Pirenópolis, ver minha filha, Goiânia, ver uma amiga, Brasília falar das redes sociais e volto para Guapimirim.

Ao chegar, vou começar, como gerente de projeto, com o Micha (fotógrafo), o projeto de um ensaio fotográfico da colheita dos frutos, produzidos pelo sistema da agrofloresta ou agricultura sintrópica, na fazenda Olhos d’Água, na região cacaueira na Bahia. Esse termo foi criado e desenvolvido por Ernest Götsch, suiço nascido em 1948. As fotos  irão compor o projeto Vizinhos Distantes, junto com fotos de outros lugares no Brasil e em outros países como a Índia, a China e quem sabe a África do Sul.

Temos muito que planejar para produzir e realizar esse ensaio fotográfico; pesquisar, localizar contatos, compactuar agendas, revisar os equipamentos necessários, passagens aéreas, aluguel de carro, hospedagem e alimentação. Ótimo estar na ativa. Esse projeto deve durar uns 30 dias.

Logo após, mês de abril, iremos fazer um outro projeto que fará parte dos Vizinhos Distantes, com os índios Kayapó em Novo Progresso no Pará, com o tema de agricultura orgânica. 

Em maio estarei pronto para a nova vida na terrinha portuguesa. Portugal e eu precisávamos nos encontrar e agora sinto que essa realidade nunca esteve tão próxima. Já estou a sentir o gosto doce do pastel de nata e do bacalhau grelhado, azeite de olivas, batatas, azeitonas e um vinho da região do Dão tão portugues.

Bons e deliciosos dias a todos.

SEM LUZ … SEM TRABALHO

Imagem de Carlos Pojo Rego

Guapimirim, quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023. Virou uma piada de mau gosto, mais um dia de indefinição no hospital. Baixou a pomba gira por aqui, pois meu computador portátil está com problemas, eu deixei ainda cair o meu celular (telemóvel) na escada de pedra e quebrou o seu ecrã (tela), depois de ter me molhado após uma chuva torrencial. Para completar, hoje acabou a luz na casa que eu estou, por isso tive de montar meu escritório no Kioscaneca, cujos proprietários, Marilene e Zé acredito, ótimas pessoas e são amigos do Micha.

Tudo por aqui é meio amador e sem compromisso, aliás, mas estas deficiências materiais e organizacionais são prontamente substituídas pela simpatia e prestezas dos brasileiros. Ainda bem, pois, senão seria o inferno de Dante. 

Chegou a memória do computador, que comprei no Mercado Livre, na portaria do condomínio, para substituir a minha. Para isso fui para Guapi, esperar, numa padaria que tem ótimos doces, para encontrar o técnico, filho da faxineira da casa, para fazer a substituição das memórias. Com esses novos conhecimentos de pessoas locais, sem dúvida, já estou a fazer parte da grande família guapimiriense.

Mas em relação à memória, errei redondamente. Pois o modelo, com os números e letras após o nome, infelizmente era diferente do que tinha visto na internet. quando abrimos o computador portátil ele não aceita trocar a sua memória RAM. Tive de ir ao Correios devolver a memória e aguardar o ressarcimento do dinheiro.

Vou pegar um Uber, que obviamente, não será chamado pelo aplicativo, e sim pelo WhatsApp direto com o motorista. Viva a dona Guanabara, rainha do jeitinho brasileiro. E ao voltar para casa parei no Kioscanela e, adivinhem, não tem nem terá luz hoje na casa e em boa parte do condominio. Soluçao é sair para beber e comer alguma coisa na cidade e voltar para casa no escuro só na hora de ir dormir.

Nossa, estou a reclamar de tudo, muito chato, tenho de parar com isso, senão vou me transformar em um velho ranzinza tempo integral. Tomarei mais cuidado. 

Bons dias para todos.

EMBAIXADA DE PORTUGAL

Imagem do Google

Brasília, DF, quarta-feira, 11 de janeiro de 2023. Finalmente o grande dia, agendado na embaixada de Portugal para fazer o meu cartão de cidadão português. Acordei cedo e meu celular não tinha bateria. Fiquei desolado, um dia tão importante para mim e não ia ficar com lembranças fotográficas, mas elas estarão, sem dúvida nenhuma, muito bem gravadas no meu coração para sempre. Saí do hotel e paguei um suco de R $7,00.

Sempre de metrô, fui para a rodoviária. Lá deixei a mochila grande no guarda volume, paguei R $15,00. Novamente de metrô fui na casa do meu filho, pegar encomendas que lá chegaram pela Internet. Um cabo de extensão e um livro.

Depois de metrô fui para a estação Galeria, e fui à pé para a Embaixada de Portugal. Cheguei antes da hora agendada, desde 1 novembro de 2022. Sentado em um banco fora da sede, comecei a ler o livro que tinha acabado de receber. 

Quando fui chamado, entreguei meus documentos para um colaborador brasileiro que preencheu um formulário no computador e pediu para tirar uma foto, sem óculos e assinar com um lápis eletrônico em um equipamento bem moderno. Meu cartão do cidadão ficará pronto em 30 dias. Não pude pagar com a minha cédula de 20 euros. Paguei com cartão de débito, mais R $129,34.

Voltei a pé para a estação do metrô, num trailer e comi um salgado,um suco de uva e juro que senti o sabor do vinho e do pastel de nata portugueses acompanhado de uma brisa do Alentejo. Voltei a real e paguei exatamente 15 reais. Depois cheguei à subterránea Galeria do Estados que une os subalternos que trabalham ou no setor bancário sul ou no setor comercial sul no centro de Brasília. Sem dúvida os executivos o fazem nos seus carros. Depois de um insistente convite de uma garçonete para almoçar, sedi a tentação e lá almocei. Paguei R $16,00 por um prato feito e um honesto suco de laranja com acerola.

De volta a rodoviária, de metrô, comprei a passagem R $65,00 e parti, mais uma vez para Pirenópolis, lamber a cria, Flora Lis, jantei uma pamonha de queijo com um suco de uva ao raríssimo som de jazz neste solo sertanejo e fui dormir no mais barato e confortável quarto do mundo, na casa da Lai.

Total de gastos no dia R $257,34 e acumulado R $1.470,55.

Meu canal no YouTube: https://www.youtube.com/@andanteedigital

NACIONALIDADE PORTUGUESA

Imagem de Carlos Pojo Rego

Meu presente de aniversário para a minha filha Flora, que faz 20 anos hoje, além do jantar japonês, que ambos adoramos, dei entrada no seu processo de nacionalidade portuguesa. Todo o trâmite pode durar até um ano para receber o seu “assento de nascimento português”, aprendi no meu processo de “virar” português, a importância de ter uma boa assessoria jurídica especializada em nacionalidade. 

Sinto-me orgulhoso de proporcionar a nacionalidade a ela, que herdou do seu bisavô paterno, e também como todos os meus descendentes, já nascidos e os a nascer, poderão também herdar. 

MEUS TRABALHOS DE CADA DIA

Hoje eu pratico dois tipos de trabalho, 1) o trabalho da minha gestão pessoal, com a parte financeira (contas à pagar) e administrava (pesquisar e obter informações para um novo lugar para morar) e 2) escrevendo um curso sobre a minha experiência de viver como andante e digital. Sempre da forma de trabalho remoto (home Office)

No meu caso credito que “devo” meu conhecimento e aprendizado que tive nas escolas e faculdades públicas, por isso, devolvo este conhecimento a sociedade como trabalho voluntário, para alguma associação ou fundação. E ainda mais, tenho uma aposentadoria  com recursos públicos que me permite fazer esse trabalho de forma gratuita.

Como voluntário posso trabalhar, por exemplo, com uma associação de proteção a animais de rua ou ajudando numa escola pública ou ainda numa associação de bairro.

Outra “necessidade” que tenho é de ver gente, interagir com os olhos nos olhos.  Para isso o trabalho presencial remunerado é uma opção importante e necessário para muita gente. 

Vou ministrar ao vivo e a cores, oficinas e palestras, que vão me colocar ao lado de pessoas que têm vontades parecidas com as minhas. 

Quero conhecer gente que tenha as minhas ideias para podermos somar conhecimento e não gente que são contrária para discuti-las. Não acredito que temos de convencer ninguem. Mas também, não temos de ser convencidos.

Convencer é uma forma de opressão.

Os finais de semana só bem-estar com a vida. Passeios, viagens, namorar, leituras, lazer, cultura e muito mais ou ainda  – não fazer nada.

Fonte e imagens: Carlos Pojo Rego, Pexels.