Talvez seja, sem dúvida nemhuma, a pergunta que mais me fazem, de como consigo viver com tão pouca coisa e como consegui abrir mão de tudo. Bem, hoje eu tenho 50 itens em duas mochilas, e na realidade são meus únicos bens. Abri mão de todos os meus bens materiais, como casa, carro, livros, etc.
Meus bens estão divididos em grupos, no grupo Trabalho tenho 14 itens, como exemplo cito, meu computador portátil, celular, bastão de autorretrato, mouse (rato), lapiseira, caderno de anotações, carteira e documentos.
Outro grupo é Higiene e Saúde, com 5 itens, nele tenho, entre outros, estojo e escova de dentes, máquina de cortar cabelo e garrafa d’água. Tenho um grupo que chamo de Deslocamento com 2 mochilas e 1 sacola de compras de tecido.
Vestuário, é o grupo com mais itens 28, são camisas, suéter, calçados, toalhas entres outros.
Na brincadeira inicial de viver com apenas 50 itens, que depois virou uma mania e procuro realmente viver com apenas esses itens. Mas tem o vestuário para os dias muito frios do inverno, com cachecol, luvas, ceroulas e meias de lã. Assim eu fico na verdade com 54 itens.
Ainda tem os bens não duráveis, como pasta de dente, sabonetes, perfumes, remédios e os insumos para as refeições que, obviamente, não estão incluídos nesta lista.
Agora vou arrumar as minhas mochilas e voltar para a estrada, vou de ônibus para Vargem Grande do Sul em São Paulo, bem na fronteira com Minas Gerais perto de Poços de Caldas. Vou visitar um velho e bom amigo, que trabalhamos juntos na prefeitura de Pirenópolis, GO.
Vou começar a fazer a contabilidade de todos os meus gastos como Andante e Digital, além de muitos pessoas que me seguem gostariam de saber, é muito importante para o meu controle financeiro, pois hoje vivo apenas da minha aposentadoria por idade do INSS.
Hoje não tive gastos R $0,00. Total acumulado de R $0,00.
Hoje eu pratico dois tipos de trabalho, 1) o trabalho da minha gestão pessoal, com a parte financeira (contas à pagar) e administrava (pesquisar e obter informações para um novo lugar para morar) e 2) escrevendo um curso sobre a minha experiência de viver como andante e digital. Sempre da forma de trabalho remoto (home Office)
No meu caso credito que “devo” meu conhecimento e aprendizado que tive nas escolas e faculdades públicas, por isso, devolvo este conhecimento a sociedade como trabalho voluntário, para alguma associação ou fundação. E ainda mais, tenho uma aposentadoria com recursos públicos que me permite fazer esse trabalho de forma gratuita.
Como voluntário posso trabalhar, por exemplo, com uma associação de proteção a animais de rua ou ajudando numa escola pública ou ainda numa associação de bairro.
Outra “necessidade” que tenho é de ver gente, interagir com os olhos nos olhos. Para isso o trabalho presencial remunerado é uma opção importante e necessário para muita gente.
Vou ministrar ao vivo e a cores, oficinas e palestras, que vão me colocar ao lado de pessoas que têm vontades parecidas com as minhas.
Quero conhecer gente que tenha as minhas ideias para podermos somar conhecimento e não gente que são contrária para discuti-las. Não acredito que temos de convencer ninguem. Mas também, não temos de ser convencidos.
Convencer é uma forma de opressão.
Os finais de semana só bem-estar com a vida. Passeios, viagens, namorar, leituras, lazer, cultura e muito mais ou ainda – não fazer nada.
A eterna busca da felicidade acredito, que passa, por valorizar mais os seus atributos do que adquirir apenas informações para agradar, fazer parte de um grupo específico ou fazer parte daquilo que socialmente é aceitável. Trabalho é importante pois nos trará conforto e aos que nos cercam. Mas tem que ser na dose certa, por isso uma vida simples com menos consumismo nos trará mais felicidade se realmente trabalharmos menos. Simples assim.
Com isso teremos mais tempo no dia para nos dedicar de forma amorosa ao que nos faz feliz ou traz felicidade aos outros. Não podemos deixar de lado os nossos atributos inatos porque disseram que não serve para nada e que não há como ganhar dinheiro com isso, que é perda de tempo e que estamos sendo ridículos. Não é verdade. Ridículo é passar a vida tentando suprir as expectativas alheias ou as normas sociais impostas.
Não somos somente trabalho. Na verdade, muitos dos melhores valores não custam nada, são gratuitos, como um sorriso, um olhar de gratidão, um suspiro de alívio, um momento de amor.
Importante sabermos no que somos bons de fato. Se pudermos trabalhar com isso, perfeito, mas se não pudermos. Vamos à luta e nunca devemos parar de aplicar nos dia a dia nossos atributos inatos, sejam eles quais forem. Mesmo trabalhando naquela função que não lhe agrada, enfrentar o trânsito, o ônibus lotado, o chefe chato, o cliente ligando a cada cinco minutos, os prazos gritando no ouvido, pois dentro do dia haverá o momento que tu farás aquilo que traz verdadeira satisfação. Aguardará avidamente por esse momento e o mais legal, farás todos os dias.
Nossa vida ficará mais leve quando aprendermos a aplicá-los a cada momento que tivermos oportunidade. Como já diz o ditado… “Ser feliz é simples o difícil é ser tão simples assim”.
Minha filha, que mora na Suíça, me perguntou se eu poderia explicar como é possível alguém viver com “somente” 50 itens. Estes itens são meus únicos bens, meu inteiro patrimônio, e cabe nas minhas duas mochilas. A proposta é viajar trabalhando (online), no conceito do nômade digital, que vive de cidade em cidade, sem programação ou tempo preestabelecido. Vale qualquer cidade desde que seja pequena (municípios com menos 10.000 habitantes).
Além dos 50 itens, que são bens duráveis, eu tenho os insumos (bens não duráveis). São produtos que utilizo para minha higiene pessoal (sabonete, shampoo), para lavar roupa (sabão em pó), para a saúde (remédios), para dormir (quarto ou kitnet), trabalhar (internet) e na minha alimentação nas refeições prontas ou produtos alimentícios (leite, manteiga, pão).
Para não perder o velho hábito de ser “metido” a professor, eu dividi os 50 itens em seis grupos de uso, apesar de três grupos não terem itens de bens duráveis, apenas bens não duráveis ou serviços. Vamos aos itens:
O primeiro grupo é dos itens para a minha Alimentação (Comer):01) Conjunto de alimentação de bambu (garfo, colher e faca) com bolsa de tecido, 02) Garrafa de metal, 03) Marmita de inox, 04) mergulhão ebulidor elétrico, 05) Caneca esmaltada.
O segundo grupo, o mais numeroso, que engloba os itens de higiene, saúde e vestuário é o Bem-estar (Bem-estar), eles são: 06) Bolsa impermeável para os itens de higiene e saúde, 07) Cortador de unha, 08) Lixa metálica de unha, 09) Máquina elétrica de cortar pelos, 10) Porta escova de dente de bambu. Na mochila grande ficam as peças do vestuário de verão: 11) Mochila Quechua 50 litros, 12) Boné da Hering, 13/14/15) Cuecas Slip (3 unidades), 16/17/18) Meias (3 unidades), 19) Suéter malha fina Hering, 20) Suéter malha grossa Hering, 21) Bermuda, 22) Bota (par) de montanha, 23/24) Calça Jean da Levis 501 (2 unidades), 25) Calça moletom, 26/27/28/29/30) Camiseta Hering (5 unidades), 31) Capa chuva tipo poncho, 32) Cinto, 33) Galocha (par) chuva , 34) Sandália (par) Havaiana, 35/36) Tênis (par) New Balance ML501 (2 unidades), 37) Toalha. Para completar o vestuário de inverno: 38) Casacão com forro, 39/40) Ceroulas (2 unidades), 41) Luvas (par) de lã.
Os próximos três grupos não tem itens entre os 50. O terceiro grupo, a Educação (Educar) os “itens” são passeios na natureza, visitas culturais (galerias, museus, artesanatos), experiências gastronomicas entre outras. Tenho um compromisso de ler um livro por mês e depois doá-lo a uma biblioteca local ou troca-lo em um sebo. Este mês estou lendo Nomadland de Jessica Bruder, que tem haver com a minha proposta de vida. O quarto grupo, a Habitação (Morar), não tenho também nenhum item, pois,vou morar em quartos alugados e com tudo que preciso, cama, armário, roupa de cama, etc. O ideal é este local ser em uma casa de uma família típica das cidades que vou conhecer. Normalmente é permitido que eu use a cozinha, a lavanderia e em muitas vezes liberam o acesso a Internet. O quinto grupo é a Mobilidade (Andar), vou fazer meus deslocamento nas cidades (curta distancia), a pé e quando viajo entre cidades uso sempre transporte coletivo.
O sexto grupo e último, o Trabalho (Trabalhar) é online (escrevendo um blog e um livro, gerenciamento de projetos com a captação de recursos financeiros para ONGs). Este trabalho pode algumas das vezes se tornar presencial, que gosto muito, pois me aproxima dos moradores das cidades em que passo. Segue os itens: 42) Mochila Quechua 30 litros, 43) Bastão de selfie com tripé com controle remoto, 44) Bateria Externa Sansung 10.000 para o telemóvel, 45) Caixa de Som JBL, 46) Canivete Swiss Vermelho, 47) Envelopes estanques para documentos, 48) Oculos, 49) Notebook Dell, 50) Celular (Telemóvel) Motorola One Fusion.
Como bem disse o escritor norte-americano, Mark Twain; “Daqui a vinte anos você estará mais desapontado pelas coisas que você não fez do que pelas que você fez. Então jogue fora as amarras, navegue para longe do porto seguro. Agarre o vento em suas velas. Explore. Sonhe. Descubra.” On the road …
No dia 1 de julho de 2021, começo meu novo projeto de vida – Andante Digital. A proposta é de viver como um nômade moderno mudando de cidade em cidade, vivendo com os moradores e sua vivência e cultura local. Viver com “somente” 50 itens de bens duráveis que vou utilizar para a minha alimentação (1), no bem-estar (2) com higiene, saúde e vestuário, na educação (3) compasseios e livros, na habitação (4) no aluguel do quarto, na mobilidade (5) com mochilas e transporte e finalmente no trabalho (6) online com a Internet móvel e presencial . Estes bens estão alojados nas minhas duas mochilas, uma de 30 litros e outra de 60 litros (incluídas no 50 itens).
Além dos bens duráveis tenho os insumos, que são os bens não duráveis, que utilizo na minha higiene pessoal, lavar roupa (sabão em pó) e para a saúde (remédios). São produtos que são consumidos em curto espaço de tempo: como os sabonetes e shampoos sólidos, esparadrapo, escova e pasta de dentes, entre outros.
A proposta do projeto, além da quantidade dos bens duráveis, haverá uma limitação do recurso financeiro. Vou gastar “apenas” um salário mínimo por mês, equivalente hoje a R $1.100,00 (2021), para cobrir todas as despesas diárias básicas e mais R $330,00 como poupança para extras, deslocamentos, manutenções, saúde e emergências . Estas despesas serão divididas nos 6 segmentos, acima. Como uma estimativa inicial de um salário mínimo, ele será distribuído: 45% (R$ 495,00) em alimentação (6 refeições), 5% (R$ 55,00) em bem-estar, 10% (R$ 110,00) em educação, 30% (R$ 330,00) em habitação, 5% (R$ 55,00) em mobilidade e 5% (R$ 55,00) no trabalho.
Nas próximas postagens vou começar a detalhar cada um destes segmentos. Vamos também viver juntos esta proposta de vida, acompanhar o meu dia a dia. A primeira cidade escolhida para morar um tempo é Picada Café, na Serra Gaúcha, Rio Grande do Sul. Uma volta às origens, como sou gaúcho, vai ser bom reviver momentos de minha infância pelas serras de Canela e redondeza. Também sou português, minha dupla nacionalidade (quase finalizada) adquirida pelo fato do meu avô paterno ser português, nascido em Lousã nas montanhas no norte de Portugal.
Anna Wiener, jovem escritora americana de Nova York (32 anos) que estudou sociologia, diz com todas as letras que “o conto da meritocracia na indústria tecnológica é uma balela”, autora de Uncanny Valley (“Vale da Estranheza” numa tradução livre). Ainda sem tradução para o português.
Escritora chegou à Califórnia em busca da promessa de felicidade e de que venceria “apenas” pela sua competência, se viu em um universo ferozmente competitivo e machista do Vale do Silício, o berço da tecnologia digital, onde surgiram grandes empresas como Apple e Google .
O livro é a sua própria vivência no interior do Vale do Silício, o mundo das tecnológicas e da cultura do trabalho e empreendedorismo que San Francisco exportou para o restante do planeta. Wiener, acreditava e defendia a meritocracia, mas em menos de três anos passou a ser uma apóstata. Ela fala no “conto da meritocracia, essa crença tão popular aqui de que ideias e trabalho árduo serão suficientes para fazer com que as pessoas sejam naturalmente escolhidas por seus talentos é uma das maiores balelas que já surgiram na indústria de tecnologia”.
O Vale se tornou um local anti-intelectual, acredita Wiener que recompensou a velocidade e a capacidade de monetização acima da contemplação e da pesquisa. A cultura da intelectualidade é superficial. “É movido pela filosofia gerencial e de interesse do capital. É muito interessante que os grandes pensadores do Vale do Silício sejam capitalistas de risco. Isso é muito estranho para mim, mas muito americano. É assim que se consegue que alguém como Mark Anderson se torne um pensador. E quem é Anderson? Um empreendedor que teve um trabalho muito importante com buscadores. Fez muito dinheiro quando jovem e passou para o venture capital.